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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Kizilas dos Orixás



Kizila, é vocábulo de origem kimbundo, utilizada nos Candomblés de Angola (grupo banto). Tal expressão é então sinônima de èwò, esta proveniente do yorubá, razão pela qual é mais dita nos Candomblés de Ketu (grupo nagô). Apesar da diferença de origem, e da prevalência das Casas de Ketu em relação às de Angola no Brasil, a palavra kizila sobrepujou-se a èwò rompendo as barreiras culturais e litúrgicas e hoje, é frequentemente usada em todos os Candomblés, não importando sua origem ou Nação.


As kizilas, ou tabus, são interdições de ordem alimentar, de vestuário e comportamentais impingidas pelos Orixás aos seus respectivos médiuns, devendo ser cumpridas pelos devotos que incorporam e pelos que não incorporam. A inobservância das kizilas, quebra a força que o Orixá depositou na pessoa e ainda enfraquece a relação entre o Homem e sua Divindade. Segundo a cultura nagô, èlédá ìnú (guardião do estômago), seria um controlador do que se ingere e das conseqüências ocasionadas.

As kizilas são importantes referências do Candomblé, sendo crucial seu conhecimento a fim de que não se incorra em graves falhas ao culto, as quais invariavelmente repercutem no resultado desejado em ebós, sacrifícios, orôs e preceitos em geral. O ato de transgredir as interdições é entendido como afronta ao Orixá, ensejando o transgressor a punições diretamente por parte da divindade (que poderá fazê-lo no campo da saúde, amor, financeiro, etc.), ou poderá ser estabelecida por intermédio do zelador através do Oráculo. Tais punições consistem em multas de reparação que podem significar oferendas, comidas secas, animais para sacrifício, etc.

Kizila dos Orixás ou Èèwò são atos e certos alimentos que contrariam o axé de alguns orixás e devem ser respeitados para manter a harmonia espiritual.
Tudo que provoca uma reação contrária ao “axé”, chamamos de quizila ou èèwò, que são energias contrárias a energia positiva do orixá.
Estas energias negativas podem estar em alimentos, cores, situações, animais e até mesmo na própria natureza.

Quizilas clássicas de quase todas as nações.

  • Não comer caranguejos.
  • Não comer siri.
  • Não comer peixe de pele que pertencem a Eguns, comer somente peixe de escamas .
  • Exu não gosta de água e mel em excesso.
  • Ogum detesta quiabo.
  • Oxóssi não aceita mel de abelha.
  • Iansã não permite abóbora dentro de casa.
  • Oxalá não pode com dendê ou vinho da palma.

Como funciona a Kizila dos Orixás?

A Kizila é uma forma de reação negativa ao axé que atinge as pessoas física, mental e espiritualmente, gerando diversos transtornos na vida pessoal.
Kizila dos Orixás age como se uma espécie de “alergia” intoxicasse os filhos de santo, trazendo assim mal estar e transtornos na vida da pessoa.
Kizila do orixá vem quando comemos ou fazemos algo que não devemos.
Cada um dos orixás tem suas próprias quizilas e seus filhos devem respeitá-las, sob pena de trazerem sérias consequências a vida.
As kizilas dos orixás são ensinadas ao longo da caminhada da iniciação que os devotos fazem na Umbanda.
As kizilas dos orixás mais comuns são certas comidas, temperos, folhas para banhos ou alimentação, bebidas, cores de roupas, etc.

Confira as principais kizilas dos Orixás.

  • Evitar abacaxi (quizila de Omolú).
  • Não comer carne nas segundas e sexta-feira.
  • Usar roupa branca nas segundas e sextas-feiras.
  • Não passar embaixo de escadas.
  • Não comer abóbora.
  • Não usar roupas totalmente pretas ou totalmente vermelhas.
  • Evitar cemitérios.
  • Não comer as pontas: cabeças, pés e asas de aves.
  • Não jurar pelo santo, nem pedir pelo mal das outras pessoas.
  • Não passar atrás de corda de animal.
  • Não deixar passar com fogo nas nossas costas.
  • Não pagar nem receber dinheiro em jejum.
  • Não comer muçum ou arraia (kizila de Oxum).
  • Não comer cajá.
  • Não comer carambola (pertence à Egun).
  • Não comer fruta-do-conde ou sapoti.
  • Evitar comer carne de porco (kizila de Omulu).
  • Evitar manga-espada (kizila de Ogum).
  • Evitar manga-rosa (kizila de Iansã).
  • Evitar tangerina (kzila de Oxóssi).
  • Não comer caça (kizila de Oxóssi).
  • Evitar fubá de milho (kizila de Oxóssi).
  • Filho de Oxóssi não come milho vermelho, nem milho verde.
  • Evitar carne de pato (kizila de Iemanjá).
  • Evitar carne de ganso (kizila de Oxumarê).
  • Não comer carne de pombo ou galinha D’angola.
  • Não ter em casa penas de pavão (tiram a sorte).
  • Não varrer casa à noite.
  • Evitar côco (quizila de Oxóssi).
  • Evitar melancia (quizila de Oxum).
  • Não pregar botão em roupa no corpo.
  • Não comer a comida queimada do fundo das panelas.
  • Evitar aipim ou mandioca (pertencente à Egun).
  • Não comer bertália.
  • Não comer taioba (quizila de Nanã).
  • Não comer pepino.
  • Não comer das folhas do jambo.
  • Não comer jaca.
  • Evitar ovos (kizila de Oxum)
  • Nunca se fala cuscuzeiro nem cuscuz, para não revoltar Obaluaiê e Omulu fala-se agerê e bolo branco.

As kizilas são explicadas, ou ao menos mencionadas nos itans dos Orixás, quando são historiadas as suas trajetórias, seus encantos, aventuras e percalços. As kizilas têm origem nas preferências dos Orixás, ou em suas características essenciais,  em seus desagrados, ou até mesmo em suas próprias referências de respeito e consideração. Por exemplo: para Oxalá, Orixá funfun da criação, regente da ética e da honra, aquele que tem no branco, a única cor de seu uso, o resumo de sua própria essência, é tabu (kizila) que seus sacerdotes, durante os atos litúrgicos, vistam qualquer cor que não seja aquela de sua preferência.

Vale mencionar como exemplo novamente Oxalá. O velho Orixá fora encarregado por Olorum para criar o mundo e seus habitantes. Porém, incitado por Exu, embebedou-se de vinho de palma, adormecendo antes da hora, vindo a perder parte de sua oportunidade. Em razão disto, Oxalá tem nas bebidas alcoólicas uma de suas principais kizilas. Nem seu culto, nem seus oloxás devem fazer uso de bebidas alcoólicas.

Xangô, irmão de Dadá, filho de Yamassê e de Oraniã, é tão ligado a sua mãe, que por respeito e consideração, segue os mesmos interditos de sua genitora.

Ainda Xangô: quando o Obá quis dominou o povo male, cuja religião era muçulmana, foi generoso ao ponto de adotar como interdito o consumo da carne de porco, vedada aos adeptos do Islã.

A noção dos alimentos “frios” e “quentes”, tais como manga, carne de porco e abacaxi, que fazem o sangue ficar “quente”, é importante como referência às características dos Orixás e a compreensão de seus interditos.


Há ainda as kizilas que são comuns a todos os adeptos do Candomblé. Ou seja, a todos os que são “de santo”: peixe de pele (por ser kizila de Iemanjá, dona dos mares, berço da pesca e fonte de alimentação); abóbora (por representar o primeiro ventre  que pariu o primeiro ser, logo, ao comer a abóbora, se estaria comendo o útero da mãe ancestral);  siri/caranguejo (que dilaceraram a carne de Omolu, quando este ainda bebê, fora abandonado por sua mãe Nanã à beira do rio, sendo ali resgatado por Iemanjá, que adotou Omolu e lançou a interdição a todos os Orixás); jaca, por ser fruto da árvore pertencente as Iyámi Oxorongá, as feiticeiras da floresta; não comer os miúdos do frango nem as asas, pés ou cabeça (pois são as partes das quais são preparados  os axés  nos sacrifícios votivos).


Devemos observar as kizilas que são herdadas em função da familiaridade de Santo, são as chamadas kizilas de axé. As kizilas do zelador (a) de santo, devem ser respeitadas por seus filhos-de-santo, assim como aquelas dos irmãos-de-barco.


Os ìyàwó, além das kizilas de seu seus respectivos Orixás, devem  atender a inúmeras interdições de conduta ao longo de seu resguardo, tais como não tomar banho de mar, não ingerir bebidas alcoólicas, não ir a cemitério, nem acompanhar cortejo fúnebre, etc.



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Por que não devemos comer caranguejo?



Como o caranguejo ficou sem a cabeça?  Quando o mundo foi criado, nenhum animal possuía cabeça.
Entretanto, Olofin havia prometido que um dia, todos seriam aquinhoados com cabeças, mas, como se tratasse de um número muito grande de pretendentes, não havia previsão de data para a entrega. A verdade é que todos andavam muito ansiosos pelo momento de poderem desfilar exibindo belas cabeças, dotadas, segundo se dizia, de olhos, boca, orelhas e tudo o mais que compõe uma boa e verdadeira cabeça.
Naquela época o caranguejo era um bom adivinho e vivia desta atividade. Todos os bichos da região eram seus clientes e ele orgulhava-se de jamais haver falhado numa previsão.
Caranguejo cultuava Esù, de quem era muito íntimo e com quem dividia, de bom grado, tudo o que recebia na sua função de adivinho. Desta forma, mantinha-se sempre, muito bem informado de tudo o que acontecia, tanto no Ayê, quanto no Orun.
Sabemos, com certeza, que era Exú quem sustentava o dom de adivinhar do caranguejo.
Um belo dia, logo pela manhã, Exú foi à casa do amigo para lhe dar, em primeira mão, a grande e tão esperada notícia: no dia seguinte Olodumare, que já não aguentava mais tanta reclamação, distribuiria cabeças entre os animais. Havia, no entanto, um pequeno problema: o número de cabeças existentes não era suficiente para atender a demanda toda e, por este motivo, aqueles que chegassem por último ao Orun, continuariam acéfalos.
 “Não contes a ninguém o que te estou revelando. Trata de chegar primeiro e assim poderás escolher a melhor cabeça que estiver disponível. Depois podes espalhar a notícia entre todos”.
Disse Exú ao caranguejo.
Ora, como já sabemos, o caranguejo zelava muito bem por sua fama de adivinho e assim, não se sabe se por força de ofício ou por simples vaidade, logo que Exú foi embora, saiu batendo de porta em porta, espalhando a boa nova e sendo por isto, muito bem recompensado pelos vizinhos.
Atrapalhado com tantos presentes, caminhava cada vez mais lentamente, mas não parou até que o último dos bichos tivesse sido avisado.
Os animais, logo que sabiam da novidade, abandonavam o que quer que estejam fazendo e corriam para o Orun, em cuja porta já se havia formado uma imensa fila.
A confusão era tão grande que  filas foram formadas para que a ordem de chegada fosse respeitada, já que alguns retardatários, usando de força, tentavam furar a fila.
Somente depois de voltar à sua casa, onde guardou os presentes que havia recebido em troca da informação, é que o caranguejo, após tomar um bom banho, dispôs-se a ir buscar sua própria cabeça.
Contudo, quando finalmente chegou ao Orun, era tarde demais, não existia mais uma cabeça sequer e, desta forma, por não saber guardar segredo, nosso herói ficou privado de adquirir uma cabeça.
Zangado e decepcionado com a atitude do amigo, Exú negou-se, para sempre, a ajudá-lo no ofício de adivinho e desmoralizado e triste, o caranguejo internou-se no pântano onde vive até hoje enterrado na lama e… Sem cabeça, é claro!
Diante deste Itan, acredito que o maior motivo de todos nós não podermos comer caranguejo, é exatamente porque o caranguejo cometeu um interdito com Exú, traindo sua confiança


As pessoas que são iniciadas no candomblé não comem caranguejo, principalmente QUEM É INICIADO de Omolu .
Em épocas antigas quando os Orixás habitavam nosso planeta, Nanã quando teve Omolu e viu que seu filho era todo coberto e também aberto em chagas e feridas  mórbidas e horríveis, aliás uma das kizilas de Nanã é ver e não gostar de ver Ninguém sofrer .
Ela por não querer cria-lo acabou que abandonando ele na praia nas marés altas. 
TODOS OS PEIXES DO MAR vieram adorar Omolu, mas o caranguejo sempre faminto foi logo dando a sua mordida e arrancando com suas poderosas garras a Carne do rei Omolu e tirando pedaços enormes, os peixes todos viram e foram logo Chamar IEMANJÁ IYÁSESÙ, que chegou correndo e pegou Omolu, tirou um ebó de seu corpo com a areia da praia, por isto estoura-se a pipoca à Omolu na areia de praia, passou azeite de dendê com a palha da bananeira e lhe deu o acaça, elemento que dá a vida, Iemanjá Iyásesù levou Omolu para seu reino. 
SÓ QUE ANTES SENTENCIOU:
DE HOJE EM DIANTE, TU SERÁS AMALDIÇOADO POR QUEM FOR ADOSÚ (INICIADO NO CULTO AOS ORIXÁS) E PRINCIPALMENTE A QUEM FOR MEU FILHO OU MINHA FILHA, NINGUÉM MAIS COMERÁ DE SUA CARNE E VOCÊ 
NUNCA MAIS ANDARÁ PRA FRENTE SÓ ANDARÁ DE LADO.
E QUEM COMER DE SUA CARNE TAMBÉM SÓ ANDARÁ DE LADO NA VIDA, JAMAIS PARA FRENTE .
O AMOR DE MÃE DE IEMANJÁ FALOU MAIS ALTO E O CARANGUEJO FOI BANIDO DA MESA DOS ORIXÁS PARA SEMPRE, SENDO PROIBIDO PARA QUALQUER FILHO DE QUALQUER ORIXÁ.
Principalmente por filhos de IEMANJÁ, NANÃ E OMOLU, causando danos a vida material e espiritual, então cuidado.

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