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sábado, 24 de setembro de 2016

Xintoísmo é Buda

Tempos atrás sonhei sobre o xintoismo....,..frutas....e a frase: xintoísmo é buda.. Momento conhecimento...uma busca sobre o tema


Xintoísmo e Budismo:
Nascentes da Espiritualidade Japonesa
por Paul Watt

A tradição religiosa japonesa é rica e complexa e ocasionalmente intriga o povo ocidental com suas facilidade e com suas tendências muitas vezes contraditórias na linha e prática religiosa. Ao lado da tradição está o Xintoísmo, a religião indígena do Japão, e do outro lado, o Budismo, uma religião hindú
que chegou ao Japão entre os séculos VI e VII D.C. vinda da Coréia e da China. Ao longo da enorme história japonesa, tem sido estas duas religiões que mais contribuíram para que os japoneses compreendessem a si próprios e ao mundo que pertencem.

O Xintoísmo

O Xintoísmo é a religião mais antiga do Japão, sua origem é obscura e datada de, pelo menos, metade do primeiro milênio antes de Cristo. Até aproximadamente o século VI D.C., período este em que os japoneses tiveram uma influência mais rápida da civilização continental, existia uma grande mistura de devoções à natureza, incluíndo cultos de fertilidade, técnicas de divindade, devoção a heróis e o Xamanismo. Ao contrário do Budismo, Cristianismo ou Islamismo, o Xintoísmo não teve fundadores e não desenvolveu escrituras sacradas, filosofias religiosas explícitas ou um código moral específico. Na verdade, os antigos japoneses encaravam a religião com tanta naturalidade que não tinham sequer um termo para defini-la. A palavra Xinto ou "O caminho do kami (deuses ou espíritos)", veio a ser usada apenas após o século VI, quando os japoneses procuraram distiguir sua própria tradição das religiões estrangeiras que foram encontrando pela frente, como o Budismo e o Confucionismo. Assim, em sua origem, o Xintoísmo era a religião das pessoas ainda não contaminadas pelo ocidente e que, acima de tudo, eram sensíveis às forças espirituais espalhadas pela natureza em que viviam. Como mostra uma crônica antiga: no mundo destas pessoas, inúmeros espíritos brilhavam como vagalumes e todas as árvores e arbustos eram capazes de falar.

Extraordinariamente, nem a caracterísitica relativamente primitiva e original nem a introdução de religiões mais sofisticadas como o Budismo e Confucionismo fizeram com que o Xintoísmo tivesse menos importância. Em parte, sua existência duradoura pode ser explicada, apontando algumas mudanças que ocorreram após o século XI, as quais o transformaram gradualmente em uma religião de santuários, grandes e pequenos, com festivais e rituais praticados por uma distinta classe sacerdocial. No entanto, estas mudanças tiveram pouca influência nos valores e atitudes básicos do Xintoísmo. O que foi realmente crucial para sua sobrevivência foram as profundas raízes no dia-adia da vida do povo japonês e tambem sua forte e conservadora relação com a cultura japonesa.

A visão do mundo para o Xintoísta é fundamentalmente brilhante e otimista, e assim, nada mais apropriado que ter como sua principal divindade, uma deusa do sol. Uma vez que eram conhecidos os aspectos mais negativos da existência humana, a razão de ser de um xintoísta é a celebração e o enriquecimento da vida.

É possível aprender muito sobre a visão xintoísta do mundo através da mitologia japonesa. Dois trabalhos datados do século VIII, o Kojiki (Registro de Assuntos Antigos) e o Nihon shoki (Crônicas do Japão), contam a história da criação das ilhas japonesas por um casal divino, Izanagi e sua companheira Izanami. Eles contam também o nascimento de diversos deuses e deusas, como a Deusa do Sol, Amaterasu, chefe de todos os deuses, bem como sua linha de descendentes que governavam as ilhas. Dois aspectos da mitologia são particularmente relevantes. O primeiro é sua orientação para os diversos mundos, os quais são mencionados na mitologia, como por exemplo a Grande Planície do Céu, ou a Terra Escura, uma terra impura dos mortos. No entanto, recebemos apenas explicações superficiais sobre eles. Abençoados com um clima ameno, mares férteis e paisagens impressionantes com montanhas, os japoneses antigos parecem ter sentido uma pequena compulsão por olhar além da presente existência.

O segundo aspecto importante da mitologia é a forte relação entre os deuses, o mundo que eles criaram e os seres humanos. As tensões entre o Criador e suas criaturas, e entre o humano e o terreno, presentes nas religiões ocidentais, são visivelmente inexistentes. Na visão xintoísta, o estado natural do cosmos é uma harmonia na qual os elementos divinos, naturais e humanos estão intimamente relacionados. Além disso, a naturaza humana é vista como inerentemente boa e o mal é visto como resultado do contato dos indivíduos com forças ou agentes externos que poluem nossa natureza pura e faz com que hajamos de forma contrária a esta harmonia primordial.

As divindades do Xintoísmo são chamadas de kami. O termo é freqüentemente traduzido como "deus" ou "deuses", mas representa um conceito de divindade bastante diferente daquele apresentado pelas reiligiões ocidentais. Particularmente, as divindades xintoístas não possuem características de absoluta transcendência e onipotência comunmente associadas com o conceito de Deus no Ocidente. O kami, de uma forma mais abrangente, é visto como algo que seja extraordinário e que inspire admiração ou reverência. Conseqüentemente, existe uma grande variedade de kami no Xintoísmo: existem os kami relacionados a objetos e criaturas da natureza, tais como o espírito das montanhas, dos mares, dos rios, das rochas, das árvores, dos animais e assim por diante; existem kami guardiões de locais e clãs em particular; exitem também seres humanos excepcionais que são considerados kami, incluindo a longa linhagem de imperadores japoneses, exceto o último. Finalmente, o abstrato, forças criativas são reconhecidas como kami. Espíritos do mal também são conhecidos no Xintoísmo, mas apenas alguns são considerados irrecuperáveis. Enquanto um deus pode chamar atenção primeiramente para sua presença através de uma amostra de comportamento atormentado ou até mesmo destrutivo, geralmente falando, o kami é benigno. Seu papel é de sustentar e proteger.

A devoção no Xintoísmo é utilizada para expressar gratidão aos deuses e para assegurar a continuidade da graça. A devoção pode tomar a forma de um dos grandes festivais que ocorrem em dias determinados durante o ano, no sentido de celebrar a plantação da primavera, a colheita do outono e outras ocasiões especiais na história de um santuário. No entanto, estes festivais podem ser praticados em casa, de forma particular e bem mais discreta, ou no santuário do bairro. Embora um festival pode durar vários dias, diferentes contrastes de comportamento dos praticantes, onde uns são mais solenes outros mais fervorosos ou até mesmo barulhentos, os rituais podem durar apenas alguns instantes para serem completados. Mesmo observando estes contrastes, todos os tipos de devoção no Xintoísmo possuem em comum três elementos essenciais. Todos começam com o importante ato de purificação, o qual é comum a utilização de água. Em todos existem também o ato de oferendas aos kami, através de dinheiro ou comida. E, finalmente, em todos é feita uma prece ou um pedido. Podemos notar que a devoção no Xintoísmo é geralmente praticada em um santuário. Estas estruturas, as quais são feitas de elementos naturais e localizadas em pontos escolhidos por seus ábades para a localização do kami ao invés de construirem um local fechado para o abrigo dos fiéis (como uma igreja, por exemplo).

Levando-se em conta que o Xintoísmo não possui escrituras, dogmas e credos, a devoção sempre foi o ponto central desta religião. Ao invés de sermões ou estudos, tem sido através de seus festivais e rituais, assim como a característica física do próprio santuário, que o Xintoísmo vem transmitindo suas características e valores característicos. O valor de maior destaque entre todos está o senso de gratidão e respeito pela vida, uma profunda apreciação da beleza e da força da natureza, um amor à pureza e, por consegüinte, a limpeza e a preferência pela falta de adornos e simplicidade na área estética.

Budismo

Quando o Budismo entrou no Japão no século VI D.C., ela ja era uma religião mundialmente conhecida com uma história de mais de 1000 anos de idade. A forma de Budismo que predominou no Japão desde o início é conhecida como Mahayana, o Budismo do Grande Veículo, a qual trouxe consigo uma vasta biblioteca religiosa, uma doutrina bem elaborada, um clero bem organizado e uma estonteante tradição de arquitetura e arte sacra, ou seja, tudo o que faltava no Xintoísmo no século VI. Embora sua visão sobre o mundo e sobre a humanidade tenha sido sempre diferente da xintoísta, é importante entender que é possível encontrar tanto diferenças como similaridades das tradições nativas nos ensinamentos do Budismo Mahayana. Por um lado, por exemplo, o Budismo enxergava o mundo como uma etapa de transição ou uma fonte de sofrimento para aqueles que permaneciam ligados a ele, ou seja, uma visão muito contrastante com a "aceitação do mundo" adotada pelo Xintoísmo. Por outro lado, existia um grande otimismo no Budismo Mahayana que se aproximava bem do Xintoísmo, um otimismo sobre a natureza humana, onde acreditava-se que todos os seres humanos tinham o potencial the absorvar a sabedoria que traz o fim do sofrimento e um grande otimismo sobre o mundo em si, uma vez que os ensinamentos dizem que quando os humanos desapegam das coisas da Terra, o mundo passará a ter um novo e positivo significado.

Não é de se surpreender que a princípio os japoneses foram incapazes de gostar do Budismo do jeito que ele era. Eles viam o Buddha simplesmente como um outro kami e foram atraídos para esta religião pela beleza de sua arte e a esperança de benefícios concretos como riqueza e longevidade que, ao nível popular, eram prometidos pelo Budismo sem nenhum desdém. Porém, no século VII, os indivíduos capazes de compreender as mensagens começaram a emergir. Normalmente, nós podemos entender o desenvolvimento subseqüente do Budismo no Japão como o resultado de constante interatividade entre a religião estrangeira e a tradição religiosa local. O Budismo procurou conscientemente desenvolver uma conexão positiva com o Xintoísmo. E isto foi eventualmente conquistado través da identificação dos kami xintoístas como manifestações de diversos Budas e bodhistattvas que cresceram dentro do Budismo Mahayana. Através deste conceito, os budistas foram capazes de introduzir muitas de suas próprias idéias ao Xintoísmo e, por fim, argumanta-se que o Xintoísmo e o Budismo são versões complementares de uma mesma verdade fundamental, visão esta que ganhou uma vasta aceitação no Japão.

O efeito da tradição religiosa nativa no Budismo foi trazer à tona os aspectos que mais se ajustavam ao gosto dos japoneses. Isso pode ser ilustrado por breves referências às três seitas budistas que representam exclusivamente od desenvolvimentos japoneses: Seita Shingon de Kukai (774-835), Seita Terra da Verdadeira Pureza de Shinran (1173-1262) e a seita fundada por Nichiren (1222-1282) conhecida por seu próprio nome. Todas estas seitas estão vivas até hoje. A Seita Shingon está situada na corrente principal do Budismo, em termos de doutrina - enfatizando a transitoriedade da natureza da existência e chamndo seus seguidores a transcenderem o mundo comum do sofrimento - e na ampla linha de suas práticas, as quais enfatizam a importância da conduta ética, meditação e estudo. No entanto, o Budismo de Shingon defende um tipo diferente de meditação. Uma meditação mais complexa que a tradicional que envolve o uso de alguns gestos manuais simbólicos e discursos chamados de mudras e mantras, assim como uma forma de arte budista connhecida como A Mandala. A Mandala representa o universo como ele é visto pelos iluminados e serve como objeto de meditação. A pura complexidade da meditação de Shingon somada com a rica simbologia e a beleza da Mandala, proporciona a esta seita um ar de mistério que tem se provado bastante atraente a milhões de japoneses desde a era de Kukai até os dias de hoje.

Na Seita Terra da Verdadeira Pureza, encontramos um tipo bem diferente de Budismo, o qual defente a salvação pela fé ao invés da obtenção da iluminação através da prática da moralidade e da meditação. Baseada na crença de que conforme o passar do tempo os seres humanos encontram uma crescente dificuldade de seguir o exemplo do histórico Buda - idéia esta remanecente desde a época da Índia - é ensinado que na presente era a salvação pode ser adquirida apenas através da confiança na graça salvadora do celestial Buda Amida, que reside em uma terra pura no Ocidente. Esta crença tem sido abraçada por outros budistas não só no Japão, mas também na China e Índia; mas Shinran foi a primeira seita na história do Budismo a descrever a conclusão radical a caeitação de tudo deve levar ao abandonamento completo da disciplina monastérica. Conseqüentemente, desde a época da Shinran, tem sido comum aos sacerdotes da Seita da Terra da Verdadeira Pureza viverem e se casarem como pessoas leigas e as seitas têm sido um dos maiores desenvolvimentos no Japão.

Finalmente, observamos na Seita Nichiren uma certa superficialidade no Budismo através de uma maneira dramática, onde o forte senso de nacionalismo tem sido frequentemente relacionado ao sentimento religioso no Japão. Nichiren foi uma reformista fervorosa que focava muito a si própria e ao Japão como centro de um movimento mundial para reviver o que eles consideravam o verdadeiro Budismo.

Estas figuras e seitas não refletem, é claro, todas as muitas formas nas quais o Budismo foi transformado no Japão. Ao contrário, podemos extraír pequenas amostras das características mais visíveis do Budismo Japonês. Em Shingon, observamos uma forte atração aos elemsntos místicos e misteriosos, assim como formas estéticas de aprecisação e expressão. Na Seita da Terra da Verdadeira Pureza, vemos uma certa preferência por um tipo de Budismo que pode ser seguido dentro do contexto da vida cotidiana e na Seita Nichiren, detectamos uma consciência de identidade nacional sempre presente. Dada a ênfase do Xintoísmo nos rituais e figuras estáticas dos santuários, sua orientação sobre este mundo, e sua íntima conexão aos mitos das origens japonesas e a linha imperial, não é difícil de dicernir a influência da religião nativa e o cunho dessas mudanças.

Para referência futura

de Bary, Wm. Theodore. "Religião Japonesa" em Arthur E. Tiedemann, ed., "Uma Introdução à religião japonesa", Lexington, Massachusetts: D. C. Heath and Company, 1974. Discute o Xintoísmo e Budismo, além de outras religiões que são parte da tradição religiosa japonesa.
"Religião japonesa: Uma pesquisa feita pela Agência de Assuntos Culturais", Tokyo: Kodansha International, 1972. Veja a "Introdução" e capítulos sobre o Xintoísmo e o Budismo.
Picken, Stuart D. B. "Xintoísmo: Raízes Espirituais Japonesas, Tokyo: Kodansha International, 1980. Ilustrada com fotografias.
Xintoísmo: Natureza, deuses e o homem no Japão, um filme realizado pela Sociedade Japonesa. Exceto pela ênfase cansativa entre as diferenças entre o sagrado e o secular e os lugares das imagens no Xintoísmo, é um filme útil e bonito. Disponível na Sociedade Japonesa, 333 East 47th Street, New York, N.Y. 10017; também disponível na Biblioteca Audio-Visual do Programa de estudos Asiátios do Oriente na Earlham College, Richmond, Indiana 47374.
Sokyo, Ono. "Xintoísmo: O caminho do kami", Rutland, Vermont: Charles E. Tuttle Company, 1962.
Nota do Sensei Wagner Bull:É interessante a visão que os ocidentais tem das religiões orientais.
Fria e sem o envolvimento da emoção que as caracteriza, principalmente quanto ao Shintoismo.

http://www.aikikai.org.br/art_xint_budismo.html

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